"Com direito à minha concepção de hierarquia dos diversos aspectos (da interpretação musical), eu diria para concluir: logo abaixo da obra, que deve sempre vir em primeiro lugar, na minha opinião, vêm a paixão e a imaginação do artista. Quanto à interpretação, julgo inadequada aquela do músico que tecnicamente realiza tudo com perfeição, que respeita todos os aspectos da articulação, que segue estritamente aquilo que se encontra nas fontes, que emprega o instrumento correto, que toca em temperamento mesotônico, que escolhe o tempo correto, mas a quem falta uma coisa: a musicalidade, ou dito de forma mais poética, o favor das musas. Isso é cruel, mas nesta profissão aquele que não teve a sorte de ser beijado pelas musas, jamais será um músico. Pois um artista verdadeiro, embora possa cometer erros e fazer coisas que se demonstrem erradas, é capaz de fazer com que a música penetre na pele do ouvinte, tornando-a realmente próxima dele. Ao passo que um outro, poderá dar-nos uma interpretação que, mesmo interessante, não consegue mostrar-nos o que é de fato a música, e é incapaz de oferecer-nos uma expressão que nos fale diretamente, que nos perturbe e nos transforme." [1]
[1] Harnoncourt, Nikolaus: O Discurso dos Sons: caminhos para uma nova compreensão musical; Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998. Musik als Klangrede, Wege zu einem neuen Musikverständnis; 1982, Residenz Verlag, Salzburg.
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